Gente,
encontrei um texto bastante interessante sobre a CULTURA DA MÍDIA, e é relativo a um livro do autor Douglas Kellner.
Vale a pena ler o texto e entender a influência da mídia em nossa forma de consumo e socialização.
Dá pra perceber como somos, muitas vezes, manipulados sem termos conhecimento claro sobre tal situação e passamos a conduzir nossas ações de tal forma que acabamos fazendo parte da MASSA.
Divirtam-se, mas estudem....o assunto é sério.
Daniela
A CULTURA DA MÍDIA
Heloisa Maria dos Santos TOLEDO1
É predominantemente a cultura veiculada pela mídia e seus sistemas de
rádio e reprodução do som, de filmes e seus modos de distribuição, da imprensa
que inclui desde jornais até revistas e, especialmente, do sistema de televisão
que o indivíduo encontra suas bases para a construção de sua identidade. A
forma dominante de cultura na era moderna é a cultura da mídia e do consumo.
Esse é o centro do pensamento de Douglas Kellner em seu livro A cultura
da mídia (editora Edusc, 2001), no qual o autor discute como a mídia, pelos
seus textos, cria formas de dominação ideológica para reiterar as relações de
poder vigentes, induzindo os indivíduos a identificarem-se com as relações e
posições dominantes e, ao mesmo tempo, fornece material para a luta e a resistência,
constituindo a principal forma de socialização do mundo contemporâneo.
A capacidade de entranhar na vida cotidiana de indivíduos comuns é
resultado da sofisticação que os meios e comunicação de massa foram tomando,
constituindo nos nossos dias um elemento “natural”, próprio da sociedade
contemporânea.
É primordial no livro a forma como Kellner faz uso de diferentes abordagens
teóricas, captando conceitos e referências que no final se complementam
para alicerçar o que o autor denomina um estudo multicultural e multipespectívico.
Assim, em sua análise de diversos textos e imagens veiculados pela mídia
como os filmes Rambo e Top Gun, filmes de horror, de Madonna, exibições de
música rap e cultura negra, MTV, e episódios como a Guerra do Golfo entre
outros, é possível encontrar elementos que remetem desde aos conceitos
frankfurtianos de padronização e massificação, resultados do processo que transforma
cultura em mercadoria, até o conceito de hegemonia e contra-hegemonia
de Gramsci, que ele encontra no âmbito dos estudos culturais britânicos.
1 Bacharel em Ciências Sociais – Faculdade de Ciências e Letras – UNESP – 14800-901 –
Araraquara – SP - Brasil.
Heloisa Maria dos Santos Toledo
Paralelo ao uso desses conceitos e com a finalidade clara de justificar a
sua metodologia, Kellner defende que os produtos veiculados pela mídia não
podem ser considerados apenas como entretenimento inocente, mas, por terem
um cunho ideológico e por situarem-se num terreno de lutas, esses produtos
possuem um significado político e, então, precisam ser interpretados politicamente.
O estudo da cultura da mídia exige, então, que se amplie a crítica ideológica
para abranger questões como a sexualidade e a intersecção de sexo, as
representações de raça e classe. Isso porque a sociedade e a mídia são concebidas
como terrenos de disputas entre grupos e ideologias para conquistar o domínio
hegemônico.
Assim sendo, a finalidade dos estudos multiculturais é se ater às diferenças,
à diversidade e à alteridade dos diversos grupos e situar suas relações de
domínio ou resistência no âmbito da cultura da mídia.
Kellner enfatiza que os textos dos produtos culturais, justamente por
terem um significado político, têm sua origem e seus efeitos em determinados
momentos contextualizados, isto é, dentro de um contexto sócio-político específico.
Quando faz a análise do filme Rambo, por exemplo, o autor deixa claro
como há uma tentativa cinematográfica de superar o que chama de “síndrome
do Vietnã”, isto é, “um sintoma da incapacidade de aceitar a derrota”.
O filme transforma-se, assim, em uma compensação simbólica para a perda,
a vergonha e a culpa ao retratar um homem-herói, que representa os Estados
Unidos como “bons” e, pelo menos no filme, vitoriosos, contra “o outro”, que é
a própria reencarnação do “mal” e que é, portanto, merecedor da derrota.
O que Kellner faz é demonstrar como sentimentos, sensações e angústias
vividas por um povo num determinado contexto podem ser apreendidos
pela indústria da mídia para servir como uma compensação, pelo menos no
nível simbólico. E mais, se é do plano social que essa indústria retira seus
elementos para a produção de suas mercadorias culturais, ela também leva consigo,
como no caso de Rambo, uma conotação política conservadora (própria
da era de Ronald Reagan) e cuja mentalidade era hegemônica nesse momento,
uma preocupação da classe masculina branca com o avanço do feminismo,
representado no filme pela figura masculinista e machista do personagem e
pela estereotipagem das figuras femininas. Revela também as representações
de raça pelos norte-americanos, nas quais vietnamitas, russos e japoneses são
representados como “os outros”, consolidando o esquema maniqueísta
hollywoodiano do bem e do mal.
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A cultura da mídia
Esse é um caso em que o pensamento hegemônico norteia o conteúdo
ideológico de uma mercadoria cultural. Mas, como Kellner enxerga na mídia
um terreno de disputas, outros grupos com posições ideológicas diferentes também
fazem uso dela para mostrar suas vozes discordantes, como em filmes,
por exemplo, que retratam as atrocidades americanas durante a Guerra do Vietnã
ou em casos em que grupos marginalizados pela sociedade tentam imprimir a
sua marca – como as produções sobre negros de Spike Lee ou como na música
rap.
Entretanto, percebe-se ao longo do texto de Kellner que, embora os conflitos
entre classes e ideologias se manifestem na cultura da mídia e nas suas
produções, essa indústria não está a serviço de nenhum dos grupos políticos
especificamente. A mídia deve ser vista antes de tudo como resultado da cultura
do capitalismo e, portanto, ela está a serviço do capital ou, mais especificamente,
dos grandes conglomerados econômicos.
Dessa forma, ela se organiza com base no modelo de produção de massa,
sendo fundamentalmente uma cultura comercial, em que seus produtos são
mercadorias cuja finalidade é a acumulação de capital por empresas privadas.
E como são também fonte de símbolos, mitos e recursos pelos quais os indivíduos
formam e modelam suas identidades, a cultura da mídia contribui fundamentalmente
para o processo de mercantilização da subjetividade.
Com a posição que lembra Walter Benjamim, Kellner indica que a cultura
da mídia pode ser transformada, no futuro, em um poderoso instrumento de
mudança social, em que vozes marginalizadas se possam fazer ouvir e em que
uma grande diversidade de culturas encontre expressão. Para ele isso é possível
fundamentalmente a partir do olhar dos estudos culturais (que hoje se encontram
negligenciados pelos pesquisadores) nas produções alternativas, que
criam novas formas de cultura e de discurso e que podem intervir de forma
significativa na cultura dominante. Se essas intervenções ainda se encontram
num plano marginal é porque os meios de comunicação estão, ainda, a serviço
das elites econômicas.
Saber como a mídia e seu constante aprimoramento técnico podem ser
usados em favor das pessoas é tarefa dos pesquisadores e estudiosos da cultura,
que devem questionar até que ponto as novas tecnologias caminham para a
democratização do seu uso ou para um novo monopólio. Isso implica a formulação
de teorias e práticas que possibilitem aos indivíduos o conhecimento sobre
a produção da mídia com a finalidade de ampliar significamente a
proliferação de novas idéias.
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Quando foram criadas as teorias clássicas da indústria cultural, especialmente
as de Frankfurt, o que se previa era que as tecnologias dos meios de
comunicação seriam exclusivamente controladas por empresas capitalistas.
Entretanto, a constante inovação tecnológica acabou por baratear o uso desses
meios, permitindo que várias alternativas de produção possam se realizar e
criar formas de produção nas quais os indivíduos podem intervir com rapidez.
Diante desse novo cenário, o fato dos pesquisadores não cuidarem da questão
alternativa “é mais intrigante e menos desculpável, segundo o autor”.
KELLNER, D. A cultura da mídia. São Paulo: Edusc, 2001.
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